Não há tanta diferença entre ser ou seria...
Hoje estou aqui deitado nesta cama com lençóis brancos esvoaçantes, estou observando o orvalho da manhã sobre as folhas no parapeito da janela...
Hoje o quarto amanheceu mais frio, sem som, sem cor, sem graça.
A manhã dos dias anteriores nunca foram assim...
Lá estava eu levantando as cinco para estar no serviço as sete, pegava todo dia o metrô, baldiava em duas estações para chegar ao serviço suado e fedido...engraçado não...? Não, de fato meu serviço era mais horrivel do que estar suado e fedendo.
Aguentar todo dia aquela velha gorda com uma verruga enorme no queixo ficar te xingando enquanto você dirigia para ela suado e fedendo...é, a vida é foda.
Minha vida não era tão ruim, até que eu ainda saia um pouco, ia para eventos de politica, ah..que isso, que vergonha, plenos 30 anos de vida, já agindo e vivendo como um aposentado.
Precisava bem mais que isso para viver de novo.
Sempre fui pobre, nunca tive ganância no coração, meu pai me deu boa educação, meu pai. Aquela que dizia ser minha mãe, o que houve com ela ?...Simples, nada tenebroso não, ela só sentou na garupa de um motoqueiro barbudo e me deixou com meu velho. Eu tinha 5 anos.
Nunca mais ouvi falar dela.Nunca é muito né, mas é verdade.
Nunca achei que meu pai morreria, ele sempre foi um herói, quando me machucava...ele sempre fez um bom papel. É, ele faleceu depois de alguns anos que minha mãe nos abandonou. Tá, pra dizer a verdade, ele se suicidou, se enforcou, é sério, ele amarrou uma corda no pescoço e se jogou...da janela do 5° andar do nosso prédio.Eu vi tudo, mas era tão pequeno, o choque não foi tanto, eu não entendia nada.Pai, o que o senhor ta fazendo...? Sou um herói filhão, agora vou voar...ele voou mesmo pela janela do prédio, no começo até achei que era verdade, o salto dele...era como se fosse cair de um penhasco e se deparar com água...se deparou com o chão, depois de bater em algumas telhas do condominio vizinho, quando finalmente chegou ao chão, eu não reconhecia mais meu pai, era apenas um monte de carne...fria.
Ainda me lembro como se fosse hoje, neste mesmo dia, ele acordou fazendo planos, queria comprar uma casa pequena na praia, ele amava o mar mais que tudo.Ele dizia que ali ele estava livre de qualquer crueldade e ignorância humana...que ali também, ele podia falar, porque havia milhares e milhares de grãos de areia para ouvir suas lamentações, o mar respondia ele com as ondas...meu pai.Da janela eu via as pessoas se aglomerando em volta do corpo, eu estava lá parado...apenas olhando, até chegar meus avós, eu fiquei lá sozinho, lá em cima, observando o sangue saindo da cabeça dele, parecia cena de filme.
Fiquei uns dias com aquela cena na cabeça...ás vezes acordava assustado, porque, eu tinha pesadelos, estava matando pessoas. Até ai tudo bem, eu era uma criaça que tinha sofrido um trauma, ninguém se importava tanto, só davam alguns conselhos e tentavam me confortar. Eu não queria saber de melações, eu já estava crescendo, ia para a escola, o que iam dizer...o que os garotos iam dizer...as garotas iam chegar perto de mim ?
No primeiro ano, tudo bem, nenhum comentario, nenhuma brincadeira de mal gosto por parte dos alunos. Os professores também não diziam nada, na minha frente, nos corredores sempre haviam os comentários, os fuxicos.
No colegial tudo mudou, eu era o tipo “galinha”, eu sempre fui bonito, alto, branco...tipico ariano que se dava bem. Olha lá...o branquelo metido...diziam os crioulos. No meio do ano, entrou no colegio alguns caras, marrentos,não olhavam pra ninguém, skinheads.
Svain era o que mandava nos outros garotos, era o maioral, as garotas suspiravam quando ele passava no corredor, os alunos abriam alas para ele passar. Ele tinha uma irmã, a Brii, uma garota linda, cabelos negros, olhos claros, pele branquissima...fazia o meu tipo.
Tá, eu ainda era virgem sim, mas porque não costumava ficar com qualquer garota não, e as que faziam meu tipo eram poucas como a Brii.
Brii...ela passava no corredor e não me dava um oi,as vezes ela me dava umas olhadas, mas quando Svain percebia, ela desviava o olhar. Eu, o cara solitário da escola, temido e as vezes rejeitado, flertando com Brii.
Eu ficava horas epserando na saida uma oportunidade de chegar em Brii, mas nem sempre tinha sucesso, ela sempre estava com Svain. Mas um dia ele teria que faltar...isso sim. Faltou um dia, dois, três...passavam-se já uns nove dias e nada de Svain e Brii. Eu ficava sentado, estava indisposto ate a conversar com o pessoal, batia o sinal do intervalo, eu nem descia no refeitorio para comer, eu estava apaixonado por ela, ainda mais, estava se tornando uma fissura vê-la todo dia.
Já não podia mais ficar sem ver aquele rosto meigo e sensual, aquele moicano comprido dela me deixava louco juntamente com seu rosto angelical...me faziam delirar constantemente.
Ela se tornou uma droga para mim, a ausência dela estava me desfalecendo.
Começamos a nos falar quando Svain estava ausente, graças a deus ele estava com pneumonia e ia se ausentar por muito tempo...
Já estava na hora de eu tomar alguma iniciativa, ficar só na conversa já não era o bastante para mim, então convidei Brii para sair comigo e uns amigos, íamos a um bar perto do colégio. Brii era menor de idade, foi um sufoco para entrar no bar, mas o que um suborno não faz?
O segurança pilantrão deixou Brii entrar em troca de uma trouxa de maconha que meu amigo Alan tinha dentro do bolso, como é facil manipular esse tipo de pessoa, que não estão dentro de si próprias, são bonecos movidos a drogas...drogas, eu nunca cheguei a usar, nunca precisei...até que cheguei aqui neste hospital.
Enfim, estávamos entrando no bar, nos encontramos com mais pessoas, Brii estava um pouco nervosa, ansiosa talvez por nunca ter ido a um bar, e preocupada por encontrar algum conhecido de Svain. Mas por sorte, nenhum deles frequentava os bares que sempre estávamos, a galera não deixava, e a gente subordinava o segurança para não deixar eles entrarem no bar.
Conhecíamos todo mundo que frequentava lá, de antigos a novos membros...
CONTINUA...
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